O RIO DA DÚVIDA

1913-1914

Expedição Científica Roosevelt – Rondon

“Ninguém inicia, é certo, uma empresa do gênero desta, em que nos achamos empenhados,
sem antes se haver familiarizado com a ideia dos perigos a que se vai oferecer
e das inúmeras ocasiões em que se terá de defrontar com a morte.”

Cândido Mariano da Silva Rondon

Theodore Roosevelt (1859-1919), após ser derrotado na eleição de 1912, quando tentava o seu terceiro mandato como Presidente dos Estados Unidos, em 1913 aceitou convites da Argentina, Brasil e Chile para fazer conferências. Com o objetivo de melhor aproveitar essa viagem para a pouco conhecida América do Sul, apresentou ao Museu Americano de História Natural de Nova York um projeto para obter espécimes da fauna brasileira. Para isso pretendia atingir o vale do rio Amazonas, desbravando o inexplorado sertão brasileiro. O museu norte-americano, além de aprovar o projeto, ofereceu a Roosevelt a participação na expedição de dois renomados naturalistas: George K. Cherrie e Leo E. Miller.

O embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Domício da Gama, e o nosso ministro das Relações Exteriores, Lauro Muller, ao tomarem conhecimento da intenção de Roosevelt e prevendo a grande repercussão internacional dessa viagem, viram nela uma grande oportunidade de nosso país se tornar mais conhecido no exterior, pois o ex-presidente era uma personalidade mundial e detentor do Prêmio Nobel da Paz. Como forma do Brasil participar desse evento, ofereceram, em nome do governo, o coronel Rondon para acompanhar a expedição e a ajuda logística para o transporte de até 5 toneladas de bagagens.

Rondon, que comandava a Comissão Construtora das Linhas Telegráficas Estratégicas de Cuiabá a Santo Antônio do Madeira (1907-1915), no dia 4 de outubro de 1913, encontrava-se no interior da Floresta Amazônica, no posto telegráfico de Barão do Melgaço, quando recebeu telegramas dos ministros da Guerra, Viação e Exterior informando-o da nova missão. No primeiro momento, alegando não ser guia de turismo, Rondon recusou a tarefa. Mas convencido da importância da missão por seu amigo e antigo colega da Escola Militar da Praia Vermelha, o ministro Lauro Muller, concordou e até abriu mão da gratificação que lhe fora oferecida para participar da expedição, alegando que, como militar, já recebia o soldo de coronel do Exército. Porém, fiel aos princípios do Positivismo, alertou que só participaria com a condição de que a expedição tivesse um caráter exclusivamente científico, com estudos de História Natural e de Geografia, e não fosse uma mera viagem para caçadas. Para não deixar nenhuma dúvida quanto aos seus propósitos, Rondon preparou 5 alternativas de itinerário, todos com alto grau de dificuldade, para que Roosevelt escolhesse uma.

Roosevelt, contrariando a preocupação com a segurança, externada pelos governos brasileiro e norte-americano e até pelo diretor do Museu Americano da História Natural de Nova York, escolheu o itinerário que se apresentava como o mais perigoso: a exploração do rio da Dúvida.Tratava-se de um misterioso rio, que ainda não constava dos mapas de nosso país, pois somente se conhecia a sua nascente, mas se desconheciam o seu curso e onde desaguava.

Assim foi criada a Expedição Científica Roosevelt-Rondon que, de 12 de dezembro de 1913 a 7 de maio de 1914, atravessou o então desconhecido interior do Brasil – do Sul do atual estado do Mato Grosso do Sul, onde iniciou, passando por Mato Grosso, Rondônia e Amazonas, terminando em Belém, onde Roosevelt, ainda se recuperando dos ferimentos e esforços despendidos na expedição, embarcou no navio Dunstan de volta para os Estados Unidos. E Rondon, voltou à Estação Telegráfica de Barão do Melgaço, no interior da Floresta Amazônica, para dar continuidade ao trabalho de implantação das linhas telegráficas.

Foi uma aventura sem precedente em nossa história. Rondon, Roosevelt e seus companheiros passaram por todos os tipos de adversidades: fome; sede; frio das noites geladas; calor dos dias com sol escaldante; tempestades tropicais que inundavam os acampamentos, apodreciam as botas e roupas; ataques de índios;nuvens de mosquitos vorazes; animais e insetos peçonhentos; naufrágios de canoas com perdas de suprimentos e instrumentos de orientação na selva; doenças como febre amarela e malária; acidentes com mortes e até assassinato de um expedicionário.

Mas, ao fim de todo esse enorme sacrifício, colocaram no mapa do Brasil um rio antes totalmente desconhecido, pois o que era o rio da Dúvida, passou a ser o rio Roosevelt, uma importante via fluvial, com cerca de 1500 km de extensão, que nasce no município de Vilhena, Rondônia, e deságua no rio Madeira, no estado do Amazonas.

Expedição Científica
Roosevelt – Rondon